"Nós" nas costas? - Pontos de Gatilho
O que são realmente estes "nós musculares"?

"A fibra muscular estriada é constituida por uma membrana (sarcolema),
pelo citoplasma indiferenciado (sarcoplasma), pelas miofibrilas e pelos nú-
cleos subsarcolêmicos. O sarcolema, de importância fundamental para a
contração muscular, constitui a membrana que separa o meio interno, rico
em íons potássio, e o meio externo, rico em íons sódio. Quando íntegra,
esta membrana permite apenas a passagem de íons positivos, e só no sentido
de dentro para fora; em vista disso, a disposição das cargas elétricas
vizinhas a esta membrana adquire característica especial, isto é, as cargas
positivas ficam para fora do sarcolema e as cargas negativas, para dentro
(fig. D .
Uma membrana com tal disposição das fcargas elétricas ao seu redor,
diz-se polarizada 3
; ela será despolarizada por qualquer causa química, física
ou mecânica capaz de alterar esta disposição. O estímulo representado
pelo influxo nervoso é responsável pela produção de acetilcolina ao nível
da terminação dos nervos nos músculos; a acetilcolina despolariza a membrana
sarcolêmica e, quando esta despolarização atinge um certo limiar,
forma-se uma onda de despolarização, que se propaga pela fibra muscular,
provocando a contração... Para que se processe a contração muscular, além do estímulo representado
pelo influxo nervoso, cujo modo de ação é ainda discutido, concorrem
dois outros elementos: a substância contrátil e a energia para contração.
A substância contrátil do músculo é representada pela actomiosina e a
energia para a contração é fornecida pelo ATP (ácido adenosintrifosfórico).
Em síntese, pois, teremos: 1) estímulo nervoso e conseqüente despolarização
da membrana; 2) rotura do equilíbrio iônico no interior da fibra
muscular e conseqüente formação da actomiosina; 3) reação do ATP com
a actomiosina, com produção de energia para a contração do músculo; 4)
ressíntese do ATP à custa do ADP e dos radicais fosfóricos ricos em energia,
por dois mecanismos, isto é, reação do ADP com a fosfocreatina e aproveitamento
dos radicais fosfóricos liberados nas fases aeróbia e anaeróbia
da glicólise".
MECANISMO DA CONTRAÇÃO MUSCULAR
JOSÉ ANTONIO LEVY *
ARON J. DIAMENT ** SYLVIO SARAIVA** - http://www.scielo.br/pdf/anp/v18n3/05.pdf
A falha que ocorre neste mecanismo incide, num primeiro momento na não interrupção da ação da acetilcolina pela enzima acetilcolinesterase, não havendo, assim a repolarização das cargas, fazendo com que haja um estímulo nervoso permanente nas substâncias contráteis do músculo (os filamentos de miosina e actina permanecem ligados )
Por definição: “Ponto hiper-irritável palpável na musculatura esquelética associado a um nódulo palpável hipersensível em uma banda tensa. O ponto é doloroso na compressão e pode originar as características de dor referida, sensibilidade referida, disfunção motora e fenômenos autonômicos”.
Travell & Simons
TIPOS DE PONTOS-GATILHO
1) PONTO-GATILHO MIOFASCIAL
- PG central: localizado no centro das fibras musculares; associado as placas terminais disfuncionais
- PG de inserção: localizado na junção musculotendínea e/ou na êntese muscular
- PG ativo: provoca dor espontânea e sensação de franqueza, limita o alongamento do músculo, e ao ser pressionado produz dor na sua zona de referência
- PG latente: não provoca dor espontânea, mas sendo pressionado pode produzir dor na sua zona de referência e/ou local, ou não
- PG primário ou principal: geralmente ativado de forma direta por sobrecarga aguda ou crônica ou por uso excessivo e/ou repetitivo. É o responsável pela ativação dos PG satélites
- PG satélite: é ativado pela ação do PG primário por uma ligação neurogênica, antagonismo a um músculo com tensão aumentada ou sinérgico sobrecarregado
2) PONTO-GATILHO NÃO MIOFASCIAL
- Fasciais
- Tendíneos
- Ligamentares
- Cápsulares
- Cicatriciais
- Cutâneos
- Periosteais
Segundo o Vol. 1 do Manual de Pontos-gatilho, SIMONS, TRAVELL & SIMONS 2ª edição, página 52: “A razão para a sensibilização dos nociceptores nesses pontos (não-miofasciais) precisa ser esclarecida...”
Uma das consequências agravantes dos dos pontos de gatilho é que podem tornar-se em uma Síndrome de dor miofascial
A dor muscular é importante: é um problema importante. Os sofrimentos por causa destas dores são uma queixa muito comum, e os pontos de gatilho parecem ser um fator major na sua origem. São um fator-chave nas dores de cabeça , dor cervical e dor lombar, e muito mais.
O que torna os pontos de gatilho clinicamente relevantes - e fascinantes - é a sua tripla ameaça. Eles podem: Causar problemas dolorosos, complicar problemas dolorosos e expressar outros problemas de dor.
Por isso o
TRATAMENTO deve ter em conta:
- Avaliação da causa primária;
- Restaurar e manter a saúde do músculo;
- PG em crises agudas não tratado, podem se tornar PG latentes, podem ser ativado por diversos fatores;
- Síndrome da Dor Miofascial devido a Pontos-gatilho;
TÉCNICAS DE TRATAMENTO
- Injeção do Ponto-gatilho
- Spray e alongamento
- Eletroterapia
- TEM: relaxamento pós-isometria, inibição recíproca, contração-relaxamento
- Técnicas posicionais: JONES / PRT
- Massagem transversa profunda (CYRIAX)
- Liberação miofascial por deslizamento profundo
- Libertação por pressão
As três últimas técnicas dizem respeito à massagem, e de grosso modo o seu objetivo é mecanicamente normalizar todo o ciclo que foi explicado no início. e falando mais sobre a Libertação por pressão técnica mais utilizada, esta:
- Liberta os sarcômeros contraídos dos nós de contração no Ponto-gatilho (liberação de barreira)
- Diferente do conceito de compressão isquêmica
- O músculo e mantido no seu comprimento livre durante o processo
- Aplicação de uma pressão sobre o ponto durante cerca de 90 segundos
- Diminuição da sensação da dor
Concluindo, a terapia de pontos de gatilho não é uma cura milagrosa para dores crónicas mas ajuda bastante, não é "boa demais para ser verdade" e, por experiência própria (apesar de muitos protocolos, e receitas, e evidências por trás) é algo experimental que frequentemente falha. Não se engane que aumentando o limiar da dor do seu paciente você esteja desfazendo os pontos de gatilho. A técnica requer conhecimento anatómico e morfológico da estrutura músculo-esquelética, habilidade e prática e ainda assim não é suficiente... A habilidade de um terapeuta é um fator minor entre os muitos fatores que influenciam o sucesso da massagem terapêutica aplicada aos PGs. Ainda é um fenómeno complexo e misterioso. Não se elimina todos os trigger points no corpo de uma pessoa em uma, duas, três, quatro sessões... Não caia neste conto de fadas.
Conselho: Tal como em todas as modalidades terapêuticas, o uso das técnicas terapêuticas manuais deve ser aplicado como um adjuvante inserido num programa de exercício e de reeducação (quer física quer psíquica).
Texto retirado, traduzido e adaptado das seguintes fontes:
http://mioterapia.blogspot.pt
http://www.scielo.br/pdf/anp/v18n3/05.pdf
https://www.painscience.com/tutorials/trigger-points.php
Bibliografia recomendada:
- Kathleen A. Sluka. Mechanisms and Management of Pain for the Physical Therapist. IASP, 2009.
- David Butler, Lorimer Moseley. Explain Pain. NOI group publications, 2012.
- John D. Loeser. Bonica’s Management of Pain. Fourth Edition. Lippincot Williams & Wilkins (LWW), 2009.
- IASP – International Association for the Study of Pain. http://www.iasp-pain.org
Leitura recomendada do artigo completo:
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